"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



quarta-feira, 30 de abril de 2014

Estamos todos errados

Quanto mais paro e observo mais tenho essa nítida conclusão: estamos todos errados. Essa seria uma boa opção de hashtag, bem atual, conclusiva e profunda. Porque vivemos tirando conclusões (eu, inclusive ao redigir o texto tiro a minha, que pode não ser igual a de muita gente por aí...), vamos julgando, vamos criticando. Ultimamente o que mais as pessoas tem feito na vida é criticar. Critica-se tudo e todos e as redes sociais são um mar para essas inundações nem um pouco festivas.


Digo que estamos todos errados porque deveríamos ser e pensar muito ao contrário do que hoje fazemos. Sou a favor do amor, da tolerância e da bondade. Sou a favor do altruísmo, do olhar para fora, sair de si e ver as pessoas ao redor. Sou a favor de sermos amigos, sermos presente e não terremoto na vida dos outros. Sou a favor de sermos pessoas do bem, mas que esse bem observe o limite do próximo que não é nem nunca será o mesmo que o meu. Sou a favor de sermos menos invasivos e menos permissivos, mas mais tolerantes uns com os outros. Sou a favor tanto do diálogo quanto do silêncio, ambos na mesma medida.


Estamos todos errados ao defendermos nossos pontos de vista ao ponto em que atravessamos a goela e os sentidos do outro abaixo. Não, ele não tem obrigação alguma de pensar e agir como eu. Não, o outro apesar de habitar o mesmo mundo e quase o mesmo centímetro do espaço em que eu habito é outro e isso significa que é um universo diverso do meu. Cabe a mim entender e aceitar isso. Se eu amo e ele não, vamos respeitar. Se ele ama e eu não, a mesma coisa. Isso é harmônico e deveria ser real. Mas não é.


Estamos compartilhando de uma realidade muito difícil e distante da minha realidade de vinte anos atrás, em que ainda não havia celular com touchscreen, não havia rede social e nem o email era tão divulgado. Havia mais abraço, mais olho no olho, mais choro compartilhado. Havia uma realidade mais palpável. Havia um mundo em que sentávamos embaixo das árvores com livros nas mãos para apreciarmos um tempo da vida. Havia um tempo. Hoje, apesar da tecnologia, não temos tempo. Tudo é feito virtualmente, até mesmo o sexo. Não temos tempo de ouvir e nem de calar. Não temos tempo sequer de sentir a experiência do outro em nossa vida, porque ele vai embora quando menos esperamos e não diz tchau. Algumas vezes manda só uma mensagem pelo celular e nos bloqueia, exclui da vida e fim.  O sociólogo Bauman fala muito sobre essa realidade líquida da modernidade. Não olhamos o mundo, não meditamos, não apreciamos da companhia dos amigos, não lemos tanto, não nos interessamos pela profundidade. Nos mantemos no que é tangível superficialmente. O mundo é outro. E nós ? Somos os mesmos, arcaicos, perdidos, inúteis, substituíveis, mortais. Estamos todos errados. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

O amor ainda está aqui

Sim. Ainda está aqui. Tão certo como esse sol que brilha lindo logo ali ao lado no céu, o amor ainda está aqui. Justa e somente por isso: por ser amor e nada diferente. 
Se fosse paixão já teria se ido, ao primeiro nó, ao primeiro cair da lágrima em meio à distância e a saudade. Ao primeiro impedimento de acontecer e de ser. Mas como é amor, ele fica e persevera, porque faz da minha alma algo mais bonito, me colore por dentro e me faz sorrir. 



Ainda é amor e ainda está aqui, justamente por acreditar que pode ser, que vai vingar, que é planta que floresce num jardim aos cuidados do tempo de Deus. Porque é amor e pulsa, aqui tão em mim e me fez enxergar o outro na medida em que ele se apresentou para mim: com suas qualidades e defeitos, sem máscaras, sem subterfúgios, sem receios de ser quem ele realmente é. 



Por ser amor, ainda está aqui bem dentro. E me faz escrever poesia. E me faz sonhar. E me faz mais viva e permanente. O amor não é dissolvido com as agruras da dor e do tempo. O amor enfeita e percebe que é ele por ele mesmo, na sua maior força, na sua completude. Sem egoísmos, sem amarras, o amor deixa com que o outro viva sua realidade, comemore suas novas conquistas, trilhe o seu caminho, para só então realizar e mesmo que ainda não realize-se de forma concreta, o amor se realiza naquilo que se entende por felicidade. Felicidade esta que pode acontecer por empatia.



O amor está aqui todos os dias, para me lembrar de você, para me fazer recordar o teu sorriso, para me fazer viver o que preciso: o desapego. Porque o amor existe por você e para você e sei que mesmo daí você o sente. Sente que é amado, querido e protegido por tamanho amor. Sim, porque o amor envolve. O amor enlaça. O amor é muito mais do que a mente imagina. E eu desejo todo meu amor à você. Hoje e sempre. Do fundo das minhas palavras eu narro como me lembro de ti e como estás aqui, tão em mim, nesse amor mais que profundo. Nesse amor que, a cada segundo, emoldura nossas vidas porque faz, sim, parte da nossa eternidade. 

domingo, 27 de abril de 2014

Da arte de deixar

Sim. Deixar é uma arte. Nem todo mundo tem capacidade de praticar o desapego, simplesmente porque o fato de abandonar, deixar, ir, seguir adiante é bastante difícil. Principalmente quando se trata de amor. Mais ainda quando o amor não terminou, a história partiu ao meio, um dos dois deixou o barco à deriva e não quis mais remar. E agora ? E hoje ? E depois de amanhã ? Como posso ir sem olhar para trás e sem relembrar tudo aquilo que eu vivia em sonho ?


Dessa arte de deixar, tão necessária, precisamos aprender a realizá-la. Sim. Deve haver um meio seguro e prático que nos faça deixar, de livre e espontânea vontade, que nos proporcione a ida sem tantos danos, sem tanto apuro, sem tanta dor, sem tanto olhar pelo retrovisor e querer impedir o vento de nos soprar que é ali, em frente, agora e sem ninguém que devemos olhar.


O coração não tem aquela valvulazinha que a gente pode puxar e pode deixar sair tudo o que não nos permite mais querer. Não. O coração é ambiente cheio e repleto e que se enche a medida em que o sentimento aumenta e aumenta grave, todo dia mais e um pouco, de manhã uma fração, à tarde de novo e à noite, já quase madrugada, pulsa pleno, recheado de quem nos é tão caro.


Que possamos juntos, em uníssono e em oração, aprendermos a deixar ir ou então a ir, simplesmente, pegar nossa bagagem de mão, nosso porta retrato, cds prediletos e livro de cabeceira e vamos. Vamos juntos, todos nós, os solitários de plantão, daremos as mãos em partida, porque acho que assim a despedida fica mais leve. Pode até virar uma canção ou um flash mob. Mas vamos, meus amigos, vamos embora, que quanto mais a gente persiste e insiste na despedida a arte de deixar torna-se ainda mais dura. Nos represa pelo tempo. Nos mata a alma. Nos atravessa. Andiamo... 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Tem dias em que só a poesia não basta

Tem dias em que só a poesia não basta ao coração. Ele quer mais. Sim, quer mais porque está querendo dizer o que nas pequenas linhas do verso não cabe. Ele quer dizer o quanto ama, o quanto quer, o quanto pulsa. O coração transborda assim, quando a mente já não processa mais e as suas veias já estão com tanto sangue espalhado pelo corpo que o sentimento é mais. Mais do que ele traz, mais do que pode imaginar. 


Então, tem dias em que ele me diz baixinho, que só o verso de uma estrofe não será suficiente para ele desenhar seu caminho, para ele se refazer dos seus desejos, para ele pulsar de verdade, como bomba que é e mora dentro do peito. Somos todos homens bomba, na verdade, porque mais dia ou menos dia essa nossa bomba interna no peito pode explodir, quer seja por excesso ou por falta, explode à míngua ou com toda potência.


Daí o texto fica mais completo, mais complexo porque quer traduzir o efeito daquilo que não sabe o coração ficar quieto. Vamos dizer, então, que o amor é o bálsamo imenso que me remete à essa vida tão louca e tão querida. O amor é essa estrada que caminha por baixo dos meus pés. O amor é o sonho que habita o meu imaginário. O amor são essas palavras que brotam docemente das minhas digitais num dia ensolarado ou com a chuva batendo na janela. O amor é isso que eu respiro. É o céu azul que olho. O amor é o regozijo de estar viva e em mim.


Então, o coração ainda diz um pouquinho mais e pede, para que todos se amem, se olhem e se percebam ao redor. Porque o mundo precisa de gente que ame. O mundo precisa de quem tem coragem. O mundo precisa de afeto urgente. E o mundo precisa desse coração pulsando, de hoje em diante. Aqui dentro de mim, aí bem dentro de você. O mundo não para e não cessa. Assim como o coração, que pulsa, sente e navega por mares a fora de mim, por todo lugar, sem fim.