"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



terça-feira, 22 de maio de 2012

E é muita vida...

Grande parte do tempo passamos nos preocupando com aquilo que há de vir , que ainda não aconteceu , conservamos muita energia buscando pelos momentos ainda em suspense , que não foram vividos , que serão dali um dia , dois , dois meses , final do ano , férias do próximo semestre... Enfim, planejamentos de tempos e de espaços que ainda não chegaram mas que já ocupam nossa , mente , nosso coração , nossos olhos , nossa essência toda.
E, despercebidamente, deixamos de olhar o exato minuto, o momento em que a vida escorre e passa por entre os nossos dedos. E sequer saboreamos aquilo que está bem aqui , há um passo de nossos olhos , de nosso coração, porque passamos o tempo todo , a maior parte da vida , lá , distante , naquele tempo que ainda vai vir , naquela fração de segundo que ainda demora a chegar...
O que deveríamos estar sentindo , fazendo , buscando , resolvendo , lidando e temperando acaba passando rapidamente e , tão doido é isso que sequer lembramos que aquele dia , o esquecido hoje , também pode ter sido em outro tempo muito desejado... O ser humano é muito complexo, difícil mesmo de se saber o que ele quer , o que ele deseja , o que ele busca realmente , porque somos insuperáveis na arte de complicar a vida , na arte de misturar as estações e acabar perdendo sem aproveitar o melhor , sem sentir o que acaba de adentrar pelos poros por termos os sentidos buscando o infinito.
E é muita vida pela frente , bem como é muita vida essa que está aí fora , presente , batendo à nossa porta todos os dias ! É muita vida que já vivemos , embora o tempo sempre pareça passar menos do que já vimos... Não sentimos de verdade essa ação do tempo passado e isso é interessante. Para nós é uma continuidade e , apenas vamos tendo uma visão mais amadurecida da vida diante do avanço e sequer notamos , a não ser se observarmos cuidadosamente o trabalho de integração e desgaste do corpo e da mente.
Mas , então , vamos tomar consciência de que é muita vida que temos para dar conta... É muita vida que temos diante dos olhos e é muita vida que temos para desperdiçarmos com o olhar longínquo , com expectativas que ainda nem chegaram , com um tempo que ainda não veio. Planejar e determinar conquistas e metas é válido , porém amarrar a elas todo o coração sem que o momento presente seja também demarcado é como correr sem ter a estrada sob os pés , é como voar em direção ao fim do abismo , é como não criar alicerces suficientes para sustentar o tempo e a realidade verdadeira.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Do ponto de convergência

Não há como fugir , quando a vida entremeada por seus acontecimentos , dos mais diversos que sejam, aponta para um caminho e esse destino converge em certo ponto. Por mais que desviamos , por mais que tentemos mudar o trajeto ou não conseguimos entender o roteiro que se desenha a seguir , uma hora acontece e a curva está bem ali em frente , no próximo minuto , na próxima página a ser escrita da história , da nossa história , da sua história...


E é incrível como a vida se encaixa , perfeitamente , para que o ponto seja alcançado. Sucessivos movimentos em sincronismo levam ao intento. Silenciosamente a trama vai sendo construída e o caminho desenhado bem ali , debaixo dos nossos pés e , quando menos esperamos , estamos diante do inusitado , do novo , do diverso mas que era exatamente o propósito da vida. Não há como programar absolutamente tudo ! Direcionamos e seguimos em certa direção , mas o caminho se constrói com os detalhes seguintes... Não há de todo a régua certeira que traça o destino , empurra e vai... tudo se molda , se sincroniza e se desenha depois... nos detalhes seguintes.


E quando não é para que aconteça , também , a vida faz suas mágicas e insucessos para que não ocorra. Se não for a hora , se ainda não estiver pronto , se não for o momento, o inesperado sempre dá um jeito de construir a reta e desviá-la , prontamente , porque ainda não chegou o ponto de encontro desejado. E não adianta lutar contra , suspirar , remar contra a maré e pegar outros endereços , armas ou subterfúgios. Só acontece quando o tempo é certo , quando a vida é certa e quando é ideal o momento.


Observemos a natureza e suas simples e diárias atitudes provam isso e os desígnios superiores colaboram para que cada detalhe , cada plantio e cada colheita , alcancem seu ápice e formem-se na hora esperada , no amanhecer do dia certo , na hora em que deve ser e é assim também na vida , em nossas coisas , não há como e nem por quê lutar contra ! É preciso sempre estar atento , para saber em qual minuto é necessário ajustar as velas , rearranjar a rota e seguir obedecendo a um comando moderado e não ferrenho , moldando o destino.


Tente ir ao contrário , tente teimar , tente buscar o controle rígido e verá que é absolutamente impossível domar o que a vida determina , o que a vida deseja ou o que o tempo quer maturar , quer tecer , quer trazer ali , noutro momento , mais adiante... Não dá ! É simplesmente irracional tentar dominar todos os acontecimentos , todos os instantes , por mais singulares que sejam ! Sempre há a química do inesperado e esse é o grande segredo e também o maior tempero , aquilo que integra e realiza os maiores e melhores acontecimentos de nossa vida. Pode confiar e seguir ! A vida ensina e a gente segue aprendendo sempre... todos os dias !

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Daquilo que mata e daquilo que fere

Um de nossos maiores aprendizados se dá por meio das relações que desenvolvemos com as outras pessoas e este é sempre um grande desafio , porque aqui dentro cabem uma série de princípios e regras que geram expectativas , ansiedades , desconfortos , realidades complexas mas também podem nos entregar alegrias , compreensão , compaixão , felicidades e momentos inesquecíveis. O grande prazer da vida está em relacionar-se e aprender com esta arte.

Porém , por vezes , a estrada se perde e o caminho desvia-se de pontos comuns. A rotina pode ser um elemento intrigante que chega até a massificar outras atividades mais nobres caso não saibamos como lidar com ela , principalmente dentro dos relacionamentos amorosos. Mas não só ela pode ser vilã neste quesito. Aparecem também as desconfianças , a falta de diálogo , a incompreensão , o descompasso , a desimportância , a acomodação , a falta de afeto , aquilo que míngua os carinhos e os afagos sempre tão necessários à continuidade e ao florescimento do amor...


Naquilo que mata o amor não encontramos os culpados , pois os envolvidos , cada qual à sua maneira trazem a sua parcela de culpa , de desconsideração , de desleixo diante do fim ... Os momentos que não foram cultivados , os diálogos sem sentido , as palavras ditas nas horas impensadas , os gestos frios , o egoísmo , a falta de vontade , o desrespeito... Cada um tempera , ao seu modo , os deslizes que vão colaborando para o final , para o desenlace , para o desencaixe , para o desfiladeiro e o término da história.


Quanto ao que fere é opcional a parcela de culpa. Porque aqui cada um vai destilar seu veneno conforme melhor lhe caiba a intenção e , alguns conseguem engolí-lo e asfixiarem-se a si próprios , tolerando tempos e tempos , tolerando mágoas internas e rasgos incuráveis , tolerando dores que outros talvez não suportariam menos da metade. Enquanto alguns vão preferir fazer jorrar esse veneno através de palavras ou de atitudes que alcancem o outro da forma mais cruel possível , fuminando-lhe a alma , fulminando-lhe os sentimentos , fulminando-lhe a própria essência e fazendo se sentir uma criatura sem paz , sem aconchego , sem merecimento , à míngua... Não só as palavras ferem. O silêncio ou a indiferença também podem ser materiais combustíveis aos mais danosos estragos da alma.

Aquilo que fere , torna-se , portanto muito pior do que aquilo que mata , pois o que mata extingue , termina e encerra. O que mata tira o brilho mas também tira toda a possibilidade de continuação da história , de recomeço , de reconstrução. Aquilo que mata fecha e põe fim... excede. Já o que fere reverbera , se protrai , dói , não se recupera de uma hora para outra e consegue minguar as esperanças , transborda , ultrapassa e até mesmo cega ! Aquilo que fere penetra profundamente e o tempo de recuperação torna-se lento ou tão exageradamente necessário que chega a sufocar quem foi ferido... Mas recupera-se porque não há dor que dure para sempre. A dor também é algo que passa e quando assim finda é pleno o reencontro novamente da paz e da felicidade possíveis.