"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sobre múltiplas inquietações

Não sei dizer o que é mais inquieto aqui: se a mente ou se o coração ou então se a própria vida... É uma disputa acirrada deles em mim, me provocando, me suscitando ideias, me fazendo borbulhar palavras que escorrem da ponta dos dedos para o teclado ou das pontas dos dedos atrelados na caneta ao papel, sim, porque ainda uso o velho e bom caderno para olhar, ler e entreolhar os sentimentos rabiscados por ali naquele amontoado de frases do parágrafo. Mas acho positivo isso de inquietação, porque é como sangue que borbulha nas veias e nos mostra estarmos vivos. A mente ativa. O coração querendo viver mais e mais intensamente à medida em que transbordamos de nós mesmos e nos deixamos ir... 


Essas inquietações diárias, muitas vezes, são fragmentos desconectados de uma infinidade de pensamentos que por vezes vem e voltam, saudades de afetos intermináveis, lembranças de tempos idos e que guardaram tantos momentos significativos, segundos de abraços que se perdem no tempo, beijos de recordações que nunca se acabarão, refrões repetidos de músicas suaves que nos abençoam o caminho e nos mostram como a vida é construída simples e minimamente aos pequenos gestos que nos agraciam na convivência, no compartilhar, no sentir, no vivenciar as melhores experiências, aquelas bem mínimas mas as mais importantes e que sempre nos brindam de sorriso ao final. 


A inquietação da alma, a inquietação do ser, esse que nos constrói, reconstrói e nos destrói também quando precisamos dar aquela virada, aquela movimentada, sacudindo qualquer resto de poeira para seguir adiante, erguer a cabeça e começar de novo. Quando você olha e vê, que está tudo errado, não está como deve ser, não está como você merece, não está como você gostaria, a alma vem e te inquieta todo e faz você olhar para a bagunça geral bem de frente e te interroga com o dedo no meio da cara: "arruma isso tudo e mostra a que você veio, sei que essa vida é bem sua, mas eu faço parte dela e não quero mais essa zona aqui, trate-se ! E trate de arrumar tudo bem arrumado para podermos seguir viagem." É, a alma não te perdoa, não. Cria a sua consciência ! 


Então, se você estiver passando por uma fase assim, de múltiplas inquietações, erga suas mãos e agradeça, porque é uma das melhores fases da vida. A vida não é feita para letargia, marasmo e muito menos depressão. Se não deu certo ontem, dará hoje, se não der, tenta amanhã novamente. Mas arruma tudo. Ouça a voz da intuição. Organiza a bagunça interna. Que os barulhos interiores sejam de algazarra, mas aquela de criança brincando no parque junto ao mundo inteiro, que nunca sejam gritos de desespero e nem choros incontidos. Que a alma possa se sentir leve e regozijada por entender que você faz por onde, faz a sua parte, faz a si mesmo o seu guardião e se inquieta porque sabe que precisa dar conta, precisa por ordem na casa. Sempre é tempo. 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

E esse amor ? Esse tal ? O que te pareces ?

Não, eu nunca maldirei o amor. Ainda que ele não tenha sido um cara legal comigo, nunca será por mim maldito ou mal recomendado. Ele não foi um cara legal comigo porque, simplesmente, eu fui criada alimentada por contos de fadas e nos contos todos os finais são felizes e ainda não vivi nenhuma história de amor com final feliz. Só por isso... Mas acredito que seja possível, porque o amor como já disse inúmeras vezes por estas páginas, é construído, tempo a tempo, dia a dia, forma a forma dentro de compassos que se interpenetram e se entendem... 


Ainda que eu não o compreenda, de todo, eu o sinto em sua magnitude e intensidade completas. Porque sentir difere de entender. Os seus arranjos e rearranjos, o seu compasso, o seu tempo eu não compreendo, também não compreendo o estado que ele escolhe para acontecer. Mas o que ele é capaz de fazer, de transformar, de intensificar ao redor, de colorir, de gerar, sim, isso eu sinto e em enorme grau. Sentir o amor por muitas coisas simples me dá um estado de graça. Sentir o amor por outra pessoa, me coloca em conexão com meu próprio eu, porque me descubro pelo outro, pelo contato do que nos transformamos quando estamos juntos. 


E isso se dá de maneira tênue, eficaz, porém singular. Sentir o amor pelo outro, ainda que ele por mim não o sinta, eu o sinto. E essa sensação de sentir e tocar o outro através do próprio amor, é como um certo alimento da alma. Alimento que me informa que através do outro, daquele alguém que me é tão caro é que posso me enxergar como sou. Porque o outro me reflete e isso pode ser para o bem ou para o mal. É pelo amor do outro que me vejo e que saem de mim os diversos sentimentos que tanto podem ser positivos quanto negativos. Eu alimento esses sentimentos com as proporções do amor que sinto por alguém. E faço questão, eu, aqui, pessoalmente falando, que sejam extremamente positivos. 


Por isso, só aceito um amor, ainda aqui falando dos amores platônicos e irrealizados, porque como disse ainda não vivi história feliz nem quando achava que viveria uma para sempre, essa já ficou estancada no passado. Então, só aceito aquilo que é bom, que me faz bem e isso vem quando sei que, aos olhos do outro sou algo bom também, aos olhos do outro sou aquilo que lhe faz bem, aquilo que lhe dá certo sentido. Aquilo que lhe expande em beleza e vigor. Aquilo que lhe preenche os dias em felicidade. Aquilo que lhe faz abrir um sorriso, que lhe aquece o coração naquele instante. Quando deixo de ser todo esse sentido do amor, parto. Porque sei que ali posso estar a fazer uma ferida. Porque ali já não sou mais alegria. Porque ali já virei um arremedo. Porque ali já não mais sou essência, sou fardo. Porque ainda que triste, é preferível uma significativa saudade, de algo de bom, do que a dor de se fazer lembrar de algo que não se queira viver. É o que me parece. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

O lado certo

De manhã me peguei pensando sobre o nosso lado certo... O avesso é, com toda a certeza e sem qualquer dúvida, o meu lado mais certo. O avesso do que já fui um dia é quem sou hoje, ainda em construção, falta lapidar e reformar muita coisa ainda, mas, com certeza é a minha melhor obra, que crio dia a dia, passo a passo, ponto a ponto, ombro a ombro, a cada novo gesto, a cada novo pensamento, a cada nova palavra, a cada tempo que passa pela minha frente. 


Mas acredito que cada pessoa deva buscar o seu lado melhor, o lado companheiro, de todas as horas, o lado discreto ou o lado arrebatado ? O lado sério ou o lado devasso ? O lado descontraído ou o lado compenetrado ? O lado misterioso ou o lado sossegado ? Cada um é a soma de todos os seus lados e de acordo com as situações que nos são desenhadas, construímos cada lado. Cada detalhe do lado é importante para complementação dos outros. 


É estranho até mesmo se olhar por esse prisma dos lados, mas ele acontece. O lado certo é aquele que te deixa mais confortável. O lado certo é aquele que te dá mais razão ou mais emoção, o lado certo te equilibra e te conforta, te traz aconchego, te traz paz ao coração. O lado certo ilumina, repara arestas, incendeia e clareia, acaba com qualquer tristeza, te norteia e te dá sempre os melhores caminhos para seguir. O lado certo é aquele que nunca te abandona e nunca te deixa correr riscos desnecessários. 


O seu lado certo pode não agradar a muita gente, assim como o lado certo de muita gente poderá não agradar o seu. O lado certo pode dar a impressão de ser desconectado, fora do tempo ou então ser tão perfeito que você sequer se dê conta dele... O lado certo está sempre do lado de fora, mas muito atrelado e alcançado do lado de dentro. Já encontrou seu lado certo ? Não ? A vida sempre te obriga a colocá-lo para fora, quando ela te coloca no melhor caminho, porque é só o seu lado certo que tem a capacidade de trilhá-lo. Descubra-se... Encante-se... Realize-se ! 

domingo, 27 de julho de 2014

Do amor que transforma, transmuta, transcende...

É amor quando consegue permanecer perene, fogo aceso, chama constante, ainda que branda, mas que aquece longamente nas noites de mais tenro inverno, tal como essa de hoje. É amor quando transforma aquilo do que se acrescenta em algo maior, que muda, que faz da matéria bruta uma matéria prima, que faz o pequeno ingrediente que iniciou a receita, aquela pitada de fermento, crescer e se multiplicar, transformar a farinha no bolo, o leite frio no cremoso recheio, a saudade em afago, o abraço em terno beijo, o até breve para até sempre, todos os dias, até a quantia em que durar... 


É amor quando transmuta e traz do caos a paz, traz do incêndio a água, traz da revolução a complexidade que acrescenta e faz olhar o mundo com parcimônia, faz chegar mais perto, faz ficar mais denso, faz ficar completo. Estamos aqui falando do amor essencial, incondicional e não das paixões doentias e efêmeras, que a nada suportam e que no mínimo sopro da brisa já se esvaem em desilusão. É amor alicerçado, parede reforçada, concreto armado que sustenta e ergue, que traz e dá forma a toda luz.


É amor quando transcende e purifica. Faz aquele mar revolto silenciar ao ponto de se poder ouvir o ressoar e o canto das gaivotas que alcançaram o horizonte. O amor transcende e acende no coração a luz, na alma a esperança, na vida o caminho, na estrada o esteio, na plumagem rica a beleza das aves que sobrevoam as paragens mais distantes e enfeitam nosso coração em um bailado multicor rufando suas asas. O amor transcende quando sabemos que a mínima alegria é o combustível benfazejo do coração. O amor transcende quando enviamos no desejo de querer bem todo o nosso afago e alcançamos a alma do outro, pura e para nós tão encantada, que nos reconecta à nossa própria essência. 



É amor todo o conteúdo que nos enaltece, que nos proclama a verdade. É amor a certeza dos corações conectados, não importando a distância ou o tempo em que estiveram separados, porque o amor é a união e a convicção dos nobres desejos intercalados. É do amor a memória mais sublime e a doce certeza de se poder partir por saber onde está o porto seguro para voltar quando preciso for. É do amor a quantia incondicional do afeto que destina e trilha a estrada em criação com o futuro, na comunhão da alma, com a construção de si e do outro em parcimônia, em elevação, em nobre dueto, em perfeição de alma e coração. 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Desilusão... danço eu, dança você, na dança da solidão...

E assim passam os dias, como num refrão de bolero... todos esses trechos de música apenas para espalhar e distribuir um pouco da solidão instaurada. Há quem morra de medo de tê-la por perto, mas, fato é que ela, sempre chega e nunca traz hora marcada e nem chama para um cafezinho... Ela adentra, rasgada e sorrateira, pela soleira da porta do coração e se instaura de modo incoerente, porque quando menos nos damos conta, estamos diante da sua roupagem negra e fria... Será mesmo ?


Não. Não tenho medo algum da solidão. Mesmo porque, em realidade que nos seja admitida e dita, nunca estamos sós. Temos a companhia de tudo aquilo que é genuinamente nosso ao redor. Temos a companhia dos nossos barulhentos pensamentos, das nossas fantásticas ideias, muitas vezes, tão ocultas, pela roupagem da poeira do tempo, mas é só vasculhar que elas estão bem ali... Temos as nossas doces lembranças do passado, os nossos sonhos, esses visitantes diários que nos alimentam e não nos deixam parar de mover... Temos as nossas saudades, daquilo que vivemos e do que ainda está por vir, que nos chega na metade do caminho do futuro... Sim, temos eles também, os nossos ladrões de sonhos, os fatídicos medos... Esses não deveríamos tê-los, mas temos.


Então o que é essa tal famigerada solidão ? Apenas um vocábulo chato a nos lembrar que estamos entremeados e escondidos na doce companhia de nossa própria alma e vontade ? É um fantasma a nos apontar que estamos à mercê das nossas escolhas e que, se por acaso nos encontramos num canto a vagar é por não termos sabido valorizar a companhia das pessoas tão queridas noutros cenários ? Mil interrogações serão feitas e nenhuma nos dará ao certo o que é em nossa vida essa "maestra" de infelicidades que adora um chororô.


Saibamos apenas, que de solidão também se vive, porque é nela e somente nela que entramos em contato com nosso EU, tão precioso e esquecido. É somente em companhia da doce solidão que temos a oportunidade de nos olhar e nos entender (se é que isso é humanamente possível). É somente de posse dos nossos sentidos solitários que somos "descobertos" em nossa melhor versão e que, podemos, olhar de perto aquilo que tanto nos amedronta e ao tomarmos ciência, podemos sorrir, porque o diabo nunca é tão feio como o pintam. Os momentos da vida mais ricos se dão com as nossas descobertas próprias, se dão com a nossa caminhada sozinhos, porque não há, num universo inteiro, uma única possibilidade de se viver eternamente em companhia de outrem, que não seja você mesmo. Pois é... Descobrir isso alivia ! Pode respirar agora :)