Há tempos não escrevo e não passeio por aqui... Nessas correrias da louca vida, muitas coisas aconteceram desde a última visita.
Mas há coisas que não mudam : o coração a espera do amor, a vida que corre por entre os dedos, o tempo que passa por detrás das janelas do carro, do ônibus, do metrô, da casa, a comida que absorvida pela pressa nem se apetece do corpo, o resto do corpo cansado que se deleita ao sofá e dorme profundamente ao fim do dia extenso, das músicas que se ouve entre um intervalo de vida e outro... Sim, porque nossa vida sofre de intervalos, sofre de escassez de um tempo que nunca termina mas que sempre parece insuficiente para tantos deveres.
E os olhos buscam incansáveis textos, incansáveis enredos para sua trajetória. E os braços que não repousam e estão sempre por se debruçar em cima de possíveis sonhos. A boca que omite todos os seus segredos, daqueles os mais inconfessáveis que permeiam o azul do nosso pensamento. Segredos tão bons, mas que se fossem ditos, talvez, interrompessem o ciclo da vida causando escândalos aos menos incautos.
Da vida que não muda restam sempre os sonhos, as viagens, os lugares novos e os caminhos que descobrem outros lugares. Outro dia mesmo, mudando uma simples rota acabei por viajar em metros de distância de minha própria casa e vi meu bairro construindo-se completamente outro bem em frente a mim.
O coração também enfeita-se e molda-se ao compasso de um tempo vasto, solitário, cadenciado. O coração é um vilão alado, vez que sonha loucamente em seu mundo fantasiado e colorido. Reveste-se e enfeita-se de sonhos tão inesperados quanto as histórias que inventa de si mesmo. Por vezes chora, por sentir-se solitário, por vezes reluz e colore-se dos dias mágicos que recebe através dos olhares que o enriquecem.
E assim, a vida segue, por aqui amigos passam, amigos antigos, novos, se deixam e o caminho é o mesmo, embora a vida, esta, seja outra. Diferente, porém com a mesma intensidade e busca de si mesma.