Quanto mais paro e observo mais tenho essa nítida conclusão: estamos todos errados. Essa seria uma boa opção de hashtag, bem atual, conclusiva e profunda. Porque vivemos tirando conclusões (eu, inclusive ao redigir o texto tiro a minha, que pode não ser igual a de muita gente por aí...), vamos julgando, vamos criticando. Ultimamente o que mais as pessoas tem feito na vida é criticar. Critica-se tudo e todos e as redes sociais são um mar para essas inundações nem um pouco festivas.
Digo que estamos todos errados porque deveríamos ser e pensar muito ao contrário do que hoje fazemos. Sou a favor do amor, da tolerância e da bondade. Sou a favor do altruísmo, do olhar para fora, sair de si e ver as pessoas ao redor. Sou a favor de sermos amigos, sermos presente e não terremoto na vida dos outros. Sou a favor de sermos pessoas do bem, mas que esse bem observe o limite do próximo que não é nem nunca será o mesmo que o meu. Sou a favor de sermos menos invasivos e menos permissivos, mas mais tolerantes uns com os outros. Sou a favor tanto do diálogo quanto do silêncio, ambos na mesma medida.
Estamos todos errados ao defendermos nossos pontos de vista ao ponto em que atravessamos a goela e os sentidos do outro abaixo. Não, ele não tem obrigação alguma de pensar e agir como eu. Não, o outro apesar de habitar o mesmo mundo e quase o mesmo centímetro do espaço em que eu habito é outro e isso significa que é um universo diverso do meu. Cabe a mim entender e aceitar isso. Se eu amo e ele não, vamos respeitar. Se ele ama e eu não, a mesma coisa. Isso é harmônico e deveria ser real. Mas não é.
Estamos compartilhando de uma realidade muito difícil e distante da minha realidade de vinte anos atrás, em que ainda não havia celular com touchscreen, não havia rede social e nem o email era tão divulgado. Havia mais abraço, mais olho no olho, mais choro compartilhado. Havia uma realidade mais palpável. Havia um mundo em que sentávamos embaixo das árvores com livros nas mãos para apreciarmos um tempo da vida. Havia um tempo. Hoje, apesar da tecnologia, não temos tempo. Tudo é feito virtualmente, até mesmo o sexo. Não temos tempo de ouvir e nem de calar. Não temos tempo sequer de sentir a experiência do outro em nossa vida, porque ele vai embora quando menos esperamos e não diz tchau. Algumas vezes manda só uma mensagem pelo celular e nos bloqueia, exclui da vida e fim. O sociólogo Bauman fala muito sobre essa realidade líquida da modernidade. Não olhamos o mundo, não meditamos, não apreciamos da companhia dos amigos, não lemos tanto, não nos interessamos pela profundidade. Nos mantemos no que é tangível superficialmente. O mundo é outro. E nós ? Somos os mesmos, arcaicos, perdidos, inúteis, substituíveis, mortais. Estamos todos errados.