"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A pessoa de Fernando Pessoa


Desde sempre gostei de poesia e até me arrisco a escrever algumas letras de vez em quando, quando a inspiração toma um rumo desproporcional às minhas emoções mais profundas, quando o coração insiste em sair e falar de si mesmo, quando ultrapasso as barreiras de minha própria alma.
Pra isso também sempre tive algumas inspirações, textos que me remontam aos sonhos, aos segredos do amor e da alma humana, aos lapsos da memória de um passado não tão distante e me uso de alguns autores para buscar traços, trechos , frases ou mesmo ideias quando quero escrever , ou mesmo quando quero ler algo que me cale fundo no espírito.
E dos meus prediletos destaco Vinicius de Moraes , o poetinha eterno, para sempre em meu coração e em minha vida por seus sonetos mais que perfeitos, Florbela Espanca, com seus textos que quando esprememos a alma é capaz de ressurgir integralmente aos nossos olhos de tamanha emoção de suas palavras e, claro, Fernando Pessoa , que em seus heterônimos, sendo três versões além dele mesmo, nos surpreende a cada texto, a cada verso, a cada pensamento escrito e traduzido em vida, luz e palavras.
E, para ilustrar ainda mais esse meu momento "litteras" trago um texto de Fernando Pessoa para que se tenha a real noção do mago das palavras, letras de quem escreve sempre com o mais profundo de sua emoção e nos fala à alma, ao pensamento, ao nosso eu mais profundo e intenso , enjoy it :
" Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência delas. Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciência.
A vida das minhas emoções mudou-se, de origem, para as salas do pensamento, e ali vivi sempre mais amplamente o conhecimento emotivo da vida.
E como o pensamento, quando alberga a emoção, se torna mais exigente que ela, o regime de consciência, em que passei a viver o que sentia, tornava-me mais quotidiana, mais epidérmica, mais titilante a maneira como sentia.
Criei-me eco e abismo, pensando. Multipliquei-me aprofundando-me. O mais pequeno episódio - uma alteração saindo da luz, a queda enrolada de uma folha seca, a pétala que se desapega amarelecida, a voz do outro lado do muro ou os passos de quem a diz juntos aos de quem a deve escutar, o portão entreaberto da quinta velha, o pátio abrindo com um arco das casas aglomeradas ao luar - todas estas coisas, que me não pertencem, prendem-me a meditação sensível com laços de ressonância e de saudade. Em cada uma dessas sensações sou outro, renovo-me dolorosamente em cada impressão indefinida.
Vivo de impressões que me não pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu."
Fernando Pessoa in : "Livro do Desassossego." p.124 Companhia das Letras

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