"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Das Agruras de ser Poeta

Meu professor de Antropologia Jurídica disse na semana passada que os poetas são uns incompreendidos e , na minha opinião , são mesmo. Disse ele , que são incompreendidos por enxergarem as coisas antes delas acontecerem , verem muitas das coisas que ainda estão lá na frente , muito distantes ainda da maioria das pessoas. Os poetas enxergam mesmo a vida de outra forma...


Mas a questão não é só enxergar , a questão vai mais além , habita outras moradas , reside no sentir , na essência que todo poeta carrega em si. Tenho pra mim que seja algum tipo de maldição , porque não conheço sob a face da Terra , outro ser que consiga sofrer mais que os poetas , com suas dores profundas a cerca de tudo o que está presente em sua realidade mais intrínseca.


O poeta ama a vida. Mas ama , de tal forma , que chega a não entender o que o separa dela , pois , é capaz de vivê-la em sua magnitude , traduzindo tudo com tal profundidade e amplitude que parece ele mesmo ser a vida que observa , tamanha é essa química. E o poeta não ama só a vida , ama o amor de forma louca e incomparável , como se o amor fosse assim uma espécie de alimento essencial , maior até mesmo do que todas as suas refeições primordiais feitas ao longo da vida , o amor é o seu néctar insubstituível.


E o poeta também se encanta quando se apaixona e aí tem de experimentar os reveses do amor , porque a paixão enlouquece e arrebata temporariamente , mas costuma causar estragos que talvez só sejam curados ao longo das próximas existências , porque o sofrimento dos poetas também é intermitente e irreparável , senão não haveria sabor em suas palavras , em sua sensibilidade , em suas emoções. E ele sempre acredita que se apaixonou pela primeira vez , e sente tudo como se estivesse vivendo pela última vez. A dor do poeta é aquela que enfeita , que traduz e que mesmo doendo ainda tem certo brilho , tem uma doçura e um encanto , tem um não sei quê de realidade que aos olhos dos outros até nem chega a parecer dor , parece um amor modificado , um amor carregado de saudade e de completude por estar mesmo incompleto , inacabado.


A complexidade é a essência do poeta que traduz na própria vida o que excede de sua alma , traduz para o lado de fora , para que os outros enxerguem aquilo tudo que nem ele mesmo entende , mas que sente , de uma forma que tenta traduzir e seu maior ofício é esse : a tradução das coisas intraduzíveis através da essência de seus sentimentos revestidos em palavras que , ao mesmo tempo em que se mostram são capazes de ocultar os mais profundos e belos segredos da alma. Ser poeta é uma árdua missão.

Um comentário:

Will Lukazi disse...

Oi amiga Van!

Para mim esses 'bichos'possuem um 6º sentido. Captam sons em cores, barulho onde tudo está em silêncio. Por fim conseguem traduzir em palavras coisas que não sabíamos que sabíamos e que se torna tão claro depois que lemos.

Não existem cursos para se fazer um poeta; não existem faculdades que possam formar alguém em um poeta. Eu creio que o 'bicho' já vem feito com isso no peito e pronto. Já tem uma sensibilidade e serenidade de ver coisas invisíveis acontecerem.

Van, seu post ficou uma delícia de se ler, de se imaginar em cada uma das situações propostas. Foi um convite de viagem ao mundo das palavras.

Excelente!