"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



quarta-feira, 7 de maio de 2014

Sobre a Saudade

Saudade é um conteúdo. Um mistério infernal que causa um desassossego, uma possessão na alma quando sentimos. É estrada só de ida. Aquilo que não se perde da gente e quando notamos, nos domina ao ponto de nos subtrair à total míngua. Ela é um ser possuído por vontade própria. Vontade essa que, dependendo do dia, da hora, do momento ou da condição em que nosso coração se encontra, chega a esganar. 


Saudade é uma fome ininterrupta, um flagelo que faz o pensamento ficar atormentado, atraiçoado por aquela latência de se pensar no que não está ali ao lado. De quem nos falta aos olhos e aos braços.
A saudade também é produtora de sentidos únicos, porque basta uma única substância que seja: perfume, modelo de roupa, aparência física, algo qualquer que nos remeta a alguém nos enlouquece de pronto.


A saudade nos cega, nos inflama, nos mata aos poucos, escorre pelos dedos das mãos, entra na atmosfera do corpo e domina por completo. É bicho indomado, fera que nos reconhece pelo instinto e nos persegue até o fim, sem nos deixar sair ilesos de tanto sentir, de tanto pulsar e nos rasga. Saudade é frase que não termina, é verbo sem conjugação, é o substantivo abstrato mais concreto que existe no solo do coração. É recriada ao infinito, multiplicada como célula interminável da criação de nossos mais sinceros desejos. Saudade tem além de vontade, vida própria. 


A saudade é vilã, algoz do tempo. Nos faz noite. Mas também é mestra das nossas memórias porque é nosso único substantivo capaz de parar um único instante e guardá-lo para todo o sempre. 

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