Saudade é um conteúdo. Um mistério infernal que causa um desassossego, uma possessão na alma quando sentimos. É estrada só de ida. Aquilo que não se perde da gente e quando notamos, nos domina ao ponto de nos subtrair à total míngua. Ela é um ser possuído por vontade própria. Vontade essa que, dependendo do dia, da hora, do momento ou da condição em que nosso coração se encontra, chega a esganar.
Saudade é uma fome ininterrupta, um flagelo que faz o pensamento ficar atormentado, atraiçoado por aquela latência de se pensar no que não está ali ao lado. De quem nos falta aos olhos e aos braços.
A saudade também é produtora de sentidos únicos, porque basta uma única substância que seja: perfume, modelo de roupa, aparência física, algo qualquer que nos remeta a alguém nos enlouquece de pronto.
A saudade nos cega, nos inflama, nos mata aos poucos, escorre pelos dedos das mãos, entra na atmosfera do corpo e domina por completo. É bicho indomado, fera que nos reconhece pelo instinto e nos persegue até o fim, sem nos deixar sair ilesos de tanto sentir, de tanto pulsar e nos rasga. Saudade é frase que não termina, é verbo sem conjugação, é o substantivo abstrato mais concreto que existe no solo do coração. É recriada ao infinito, multiplicada como célula interminável da criação de nossos mais sinceros desejos. Saudade tem além de vontade, vida própria.
A saudade é vilã, algoz do tempo. Nos faz noite. Mas também é mestra das nossas memórias porque é nosso único substantivo capaz de parar um único instante e guardá-lo para todo o sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário