"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



quinta-feira, 5 de junho de 2014

A vida tem os próprios tropeços

Sim. A vida tem os próprios tropeços e estes ultrapassam os cadarços do nosso livre arbítrio, porque neles tropeçamos ainda essa semana e nos reencontramos num total acaso irreal. Numa cidade como São Paulo, megalópole, metrópole andante e trôpega, quem iria imaginar que numa manhã de uma segunda feira cinzenta você literalmente cruzaria o meu caminho. E logo naquele dia, em que eu vinha tão distraída, achando linda a decoração da Avenida com as bandeiras de todas as nações. Logo naquela manhã que eu havia me decidido a deixar de pensar em você, porque você escolheu seguir seu caminho e eu te desejei toda a felicidade do mundo.


Nos vimos, ou melhor, eu te vi bem ali, caminhando à minha frente como uma louca miragem, mas que dessa vez não era uma fumaça criada pela minha imaginação, era realmente você, ali, em tamanho real, em carne e osso, sem tirar nem por. E eu, desesperada, pensando em como poderia te abordar já que uma segunda feira fria não inspira muita coisa. E você parou e eu disse "bom dia", o que não foi reconhecido num primeiro momento mas depois tudo tomou seu lugar. E ficamos ambos, sem qualquer jeito ou forma de saber como agir, porque um encontro ao acaso de um caso que se perdeu em meio a um mundo inteiro é assim: deixa silêncios. 


E seguimos por um breve trecho, eu me esquivando para que você não visse minhas mãos trêmulas... foram os segundos, porque acho que nem levou um minuto nosso percurso todo. Foram os segundos mais longos da minha vida. Com você ali ao meu lado. E eu sem saber o que dizer. Eu que pensei e repensei tanto no momento de te encontrar e de te dizer de um tudo. De um tudo daquilo que faltou, das palavras que não dissemos, dos momentos que não tivemos. Queria olhar em seus olhos e não consegui. Queria dizer palavras que não sairam. Queria um abraço de meio minuto que sequer veio. 


Acho que foi esse o fim. O fim que a vida nos preparou já que não tivemos coragem de fazê-lo por nossas próprias vontades, tão descompassadas. O fim num tropeço de uma manhã de segunda feira fria de São Paulo. O fim que nunca veio. O fim de uma história que sequer teve um começo ou uma continuidade. O fim de duas partes. Um fim civilizado e frio. Um fim que vai ficar assim, no encontro de um acaso de duas vontades inexistentes. O fim de uma saudade ausente. Um fim do que nunca teve fim.


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