Sim, diferente das flores, se o amor não brota do peito ele vira uma lembrança. Ou também, depois que muda de estação, perde o endereço, muda de rota ou de direção, depois de certo tempo de vivência ele vira doce retrato no tempo. Já disse outras vezes por aqui que acredito em amores longínquos, mas também acredito naqueles de menor duração, que tem certa duração, que contam apenas uma página, um parágrafo ou um capítulo...
E é desses menores que a vida carrega para sempre a lembrança. Traz as histórias, os momentos, faz o pensamento viajar por alguns instantes ali naquele pedacinho de amor que a gente viveu. E nos dias em que desfrutamos do nosso delicioso "ócio" é que essas lembranças chegam e nos fazem mergulhar nas mais suaves (ou tristes) recordações daquele afago e daquele afeto de outro tempo. Relembramos sabores divididos, relembramos tempos perdidos em beijos intermináveis, relembramos aquele refrão da música que tocava ali, no minuto do amor. Amor e música se dão muito bem e fazem um verdadeiro arsenal de lembranças no coração.
De forma definitiva e inesquecível a memória cuida de cada detalhe. Cada minúcia... Os sons dos sorrisos, a temperatura dos abraços, os olhares (re) vistos como da primeira vez. Devemos saber cuidar de todo o tipo de recordação que chega de cada mínima lembrança: para não enlouquecer, para não virarmos nostalgia e mergulharmos num poço deprimido e inglório de tristeza. Já dizia o poeta do lado bom do amor e é com esse que devemos ficar para sempre - apenas o lado bom.
E para cada lembrança do amor há uma linha escrita dentro da gente, dessa linha montamos todas as histórias da nossa alma e desenhamos um grande livro do qual resultam as nossas experiências, dos pedacinhos de tempo retalhados pelos fragmentos que ficaram marcados na memória... Para cada detalhezinho o destino endereçou-se de um momento do tempo e nós, junto da pessoa amada, naquele segundo, escrevemos o texto bem delineado do nosso conto (novela ou romance) de vida. Que pode ser eterno ou não... Que pode nos levar a sempre um "felizes para sempre" durante o tempo em que o amor permanecer ali: no lado doce da nossa recordação mais bonita.
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