Não sei quem disputa mais , se sou eu com ele ou se é ele comigo. O Tempo. Ando ficando sem tempo para todas as outras coisas que não sejam correr contra o tempo. E ter tempo de resolver tudo , absolutamente tudo , sem me esquecer de nada.
O tempo me escraviza , o relógio me paralisa e quando me dou conta , já chegou em mim outra noite , já passou por mim outro dia . Outro dia em que deveria ter feito mais , em que deveria ter sido mais , outro dia em que não me dei conta nem de mim , que dirá de administrar o tempo que passa por nós nessa nossa louca vida.
Já estamos em Abril, praticamente , o início do ano já foi . Férias , Carnaval , já vem a Páscoa e o tempo corre desenfreadamente e a impressão que tenho é de que , cada dia , menos coisas eu consigo fazer e muitas das que eu gostaria de realizar acabo deixando para trás. Tantas outras , tão importantes , acabo empurrando para baixo do tapete . Por falta de tempo.
É de um tempo para mim que preciso. Um tempo para ser mais , para estar mais comigo , em mim mesma , presente. Me olhando de frente , mirando meus desejos e minhas vontades . Encarando minha realidade , nua e crua , sem tirar nem pôr. Preciso de tempo para um reencontro comigo , em que devo realizar todas as minhas funções de forma natural , sem ser controlada , sem ser escravizada pelos relógios dos compromissos da vida.
O meu pulso demonstra minha algema contra o tempo e uma marca de um relógio eternizado que aparece desde sempre entre minhas cores que se mesclam do canela ao branco escritório , num suave regozijo de saudades de um passado que voou , passou correndo e nem me dei conta . E hoje já cheguei aqui , ao futuro , ao futuro do meu tempo passado. Tempo esse que não volta mais , agora só anda à frente , à frente do meu tempo presente que perco um pouco mais a cada dia.
Não me arrependo do que fiz , pelo contrário. Me arrependo daquilo que acabo deixando de fazer por conta do escasso tempo. Procuro milimetricamente exercitar tudo em favor do meu tempo , administrá-lo da melhor forma que consiga cumprir e exercer sua função de senhor das minhas ilusões. Ilusões estas presentes num passado que se foi , de um presente que passa rapidamente e de um futuro que ainda nem veio, mas que anseio esperar e me escraviza assim , novamente , me deixando à mercê. À mercê do senhor do Tempo... Pará-lo com as mãos ? Detê-lo em meio aos sonhos ? Impossível , ele é implacável.